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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Dança Baladi

Post revisto e reescrito em 19/04/18

Há mais de 50 anos, houve um grande êxodo rural de fallahim para a cidade do Cairo, no Egito. Em árabe, baladi/balady significa, literalmente, "minha terra". Dentro das cidades, pode significar "caipira" e refere-se a esses fallahim e à sua cultura, envolvendo comida, comportamento, roupa, música, dança, etc.

É uma dança popular de cárater solo, por mulheres e homens dentro de casa. Não é uma dança folclórica, que costuma se limitar a determinado grupo étnico. É a dança do dia-a-dia no Egito. E ela foi uma das danças que a dança do ventre se inspirou.

A roupa que melhor representa uma dança baladi é a galabia, com lenço ou faixa (mais moderno) na cabeça e no quadril. Mas a roupa de Dança do Ventre pode ser utilizada, assim como qualquer roupa do corpo, no caso do shaabi ou em um baladi moderno. A escolha das roupas sempre depende do contexto que você estará e da música: show, festa da colônia árabe, teatro, restaurante. Os snujs podem complementar a dança, mas não é obrigatório.

A improvisação vocal (maual) ou instrumental (taksim) está quase sempre presente na dança baladi. O maual é a introdução vocal que o árabe faz; descende de um canto religioso, segundo alguns estudiosos. São momentos em que o cantor é dominado por seus sentimentos, geralmente relatando histórias de amor ou desilusões. Costuma aparecer no início das músicas, mas pode vir no meio também:


Na dança baladi, os instrumentos mais presentes são a nay, alaúde, kanoon e o acordeon. O acordeon tem origem na China e não se sabe como chegou ao Egito e se tornou seu instrumento mais importante. Ele é o instrumento mais utilizado nas músicas balady, como no inicio, na forma de taksim, onde a percussão entrará depois. Particularmente, é meu instrumento favorito. Porém, nas músicas mais modernas, o saxofone e o teclado também podem aparecer em seu lugar.

A bailarina brasileira Maira Magno (SE) considera 3 tipos de baladi: Alexandria (Meleah-laff), Sul do Egito (Said e Ghawazee) e Norte do Egito (Taqsim Balady e Shaabi). Mas há quem considere o Fallahi como dança Baladi também.

As Ghawazee usam a nay e o rabab com a estrutura do baladi, incorporando o acordeon dos turcos, em torno de 1700. Elas, atualmente, se concentram mais no sul do Egito, como em Luxor. A bailarina egípcia Fifi Abdo costuma representar a personagem "bint-el-balady" ou a Maalena, que o bailarino egípcio Mahmoud Reda levou aos palcos com a dança meleah laff:


A bailarina egípcia Souhair Zaki é do norte do Egito e é uma grande representante da dança baladi (da forma mais conhecida aqui no Brasil, o taqsim balady). Ela tem uma dança mais doce, mais introspectiva:


Caso você queira coreografar um taqsim balady, a dança deve parecer uma improvisação, porque ela é improvisada culturalmente! As egípcias usam tanto as mãos quanto o quadril, com pouco braço e tronco. Oitos, camelos e redondos são muito usados e costumam ser pequenos, quando feitos por egípcias. Aqui, nesse vídeo, eu danço uma progressão balady ou taqsim balady (não coreografado):


Quando o baladi é cantado, dependendo da letra, pode ser chamado de Shaabi, que é uma palavra árabe para "folclore" no Marrocos, porém no Egito, é uma dança urbana das classes D e E. São músicas que falam sobre o cotidiano dessas classes, às vezes, sobre temáticas pejorativas. Para tentar representar um shaabi mais "autêntico", não se deve estar preocupado em seguir a música, apenas dançar, não se preocupando em ser complexo, permitir-se. Existem muitos cantores no Egito; entre os mais famosos está Saad el Soghayer. E sim, é a Dina quem está nesse clip dele:


Os baladys mais modernos (alguns chamam de new baladi ou balady moderno), como os do Armen Kusikian, permitem uma leitura mais moderna da dança, refletindo inclusive nos figurinos. A ucraniana Marta Korzun é ótima nesse estilo:


Fontes: Anotações pessoais de aulas com professores variados (Khaled Seif, Jade el Jabel, Luciana Midlej, Luciana Nogueira, Maira Magno, Marta Korzun, Melinda James, Nour, Orit Maftsir, Raqia Hassan); Blog Yallah!, Greenstone Bellydance, Livro "Folclore Árabe" de Luciana Midlej e Melinda James.

Bauce kabira,
Hanna Aisha