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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Desapego

Desapegar. Que coisa mais difícil de se fazer. Desapegar de coisas materiais, passado, sentimento, pessoas... acho, particularmente mais difícil, desapegar da decepção. Não qualquer decepção, claro. Mas desapegar da decepção gerada a partir da ação de alguém que você admira o trabalho profundamente. Descobrir que a pessoa não é, nem faz questão de ser um ser humano agradável ou de bom caráter.

Não tenho saudades do meus 20 anos. Estou gostando muito dos meus 30 anos e imagino que com 40 será ainda melhor. Com 20 anos, todas as pessoas são incríveis, quanto mais melhor, você finge que não viu, procura só enxergar as boas qualidades. Hoje, eu me sinto amadurecer quase que diariamente. Seja nos meus relacionamentos pessoais, no trabalho ou na dança. Gosto muito de perceber essas mudanças.

Quero cada vez mais, menos pessoas próximas a mim; quero aquelas que confio muito, apenas. Não me interessa mais querer aparecer para qualquer um; quero aparecer pras pessoas "certas". Não quero fazer milhões de cursos porque disseram que é bom; eu tenho foco, que mudam anualmente, de acordo com minhas necessidades e não a do mercado. Não quero mais dar opiniões para me entrosar; quero conversar e trocar apenas com quem está aberto para isso.

Quando eu penso que os profissionais de Dança do Ventre estão realmente trabalhando para melhorar o mercado, vem alguma decepção. O ego ainda é maior que o interesse em fazer o mercado, como um todo, melhorar. "Para quê TROCAR com uma zé-ninguém? Quem é ela para me contestar?" E sempre vem de "cima", nunca de "baixo". Aí fico triste, choro. No dia seguinte, sinto raiva. Quero acabar com o blog, quero parar de dar aulas, de dançar... Depois, sinto decepção. Depois... fico triste de novo, mas começo a refletir, a usar a razão. E relembro, que a Dança do Ventre não é minha atividade principal [os motivos não interessam aqui].

... daí, eu relembro também do por quê eu estar ainda trabalhando com Dança do Ventre (dentre as inúmeras vezes em que pensei em parar):

- Porque tenho poucas, sim, bem poucas, alunas que sinceramente confiam em mim como professora
- Porque tenho poucas, sim, bem poucas, bailarinas que sinceramente confiam e admiram meu trabalho como bailarina e professora
- Porque estudo tudo o que eu posso, dentro do tempo que tenho disponível (e, às vezes, indisponível) para me aprimorar como bailarina e professora, mesmo que lentamente
- Porque todo compromisso que assumo como bailarina e professora é cumprido da melhor forma possível e é reconhecido
- Porque dançar me faz bem e gosto de estudar. Ponto.

Daí, a ansiedade pelo reconhecimento alheio pelas "grandes" vai embora porque, simplesmente, não preciso mais dele.

E volto a dormir tranquila porque, simplesmente, não vale a pena. O que vale a pena é o pouco que retorna, mas de grande valor, porque é sincero.

Desejo muito sucesso àquelas pessoas que estão envolvidas nessa empreitada difícil de tornar o meio da Dança do Ventre um lugar de respeito no mercado, mas enquanto as próprias profissionais não murcharem um pouco o ego, não vai funcionar.

Bauce kabira,
Hanna Aisha

domingo, 11 de agosto de 2013

Souhair Zaki: pra estudar

Vamos a mais uma bailarina marcante e minha preferida, junto da Fifi Abdo: Suhair Zaki. Creio que muita gente já ouviu falar que ela foi a primeira bailarina a "cometer a ousadia" de dançar Oum Khoulsoum. Importante lembrar que, apesar de hoje ser muito comum, Oum Khoulsoum não era música para se dançar, apenas para se ouvir. Mas ela foi lá e fez, com aprovação da própria cantora:


Elegância, delicadeza, feminilidade, suavidade; para mim, ela representa a ideia tradicional da mulher. Muito egípcia, sem nenhum toque ocidental óbvio. Dança comumente taqsim balady, véu e snujs. Não me lembro de ter visto algum vídeo seu dançando folclore ou apenas percussão (se virem algum, coloquem nos comentários, por favor!). 

Notoriamente, ela tem um estilo diferente das outras bailarinas da época ou mais antigas: ela é mais contida, com uma "timidez" confundida com mistério: uma "moça de família", nada balady. Ela parece emanar uma sensualidade quase ingênua. Segundo ela mesma, aprendeu a dançar em casa sozinha, sem professores. Acho que ela foi a única bailarina a ter se casado apenas uma vez e chegar a ter filhos.

Eu achava que o soldadinho (aprendi como cavalo) era criação dela, praticamente exclusivo. Mas se você olhar a dança da Nagwa Fouad (dizem que era sua inimiga, não sei), ele também aparece bastante. Ela faz esse movimento de 0:13 a 0:30:


O figurino dela é bem repetitivo: saia godê, com duas grandes aberturas para as pernas, barrigueira e top, tudo com a mais variadas cores. Ela ainda é viva e se aposentou no ponto alto da carreira. Samia Gamal e Tahya Karioka eram suas inspirações e seu padrasto quem a incentivou a ter carreira como bailarina desde muito cedo, sendo também seu empresário. Ela participou de inúmeros filmes; já percebeu que a maioria dos vídeos dela estão ambientados?


Ela é um exemplo de que "menos é mais". Um dos fortes dela é fazer emendas de sinuosos com excelência e sempre preferiu improvisar. Além disso, ela trabalha os movimentos sempre de forma pequena, nunca expansiva. Vale a pena estudá-la, caso você precise trabalhar suavidade, calma, além dos lentos.


O auge de sua carreira foi nos anos 70 e ela se aposentou nos anos 90. Quer saber mais sobre ela? Vá aqui, aqui, e aqui. Essa performance foi minha tentativa de representá-la, a pedido da bailarina Shaira Sayaad - foi um processo delicioso, confesso:


Bauce kabira,
Hanna Aisha

domingo, 4 de agosto de 2013

Escolha da música - parte 2

Antes de mais nada, vamos ler esse post da Roberta. Foi?

O importante de ser aluna por um tempo considerável (5 anos, por exemplo) é ter a oportunidade de conhecer várias modalidades da DV (caso você tenha uma boa professora e seja estudiosa) e descobrir, muitas vezes, sem querer, que dança melhor um baladi, mesmo que você ache uma rotina oriental uma de-lí-cia de se ver e ouvir:


Como a Roberta mesma escreveu, não dançamos uma música qualquer e a expressão emerge da emoção que a música te traz. Então, como escolher as músicas para dançar aquele tão esperado solo?

Eu acredito e, imagino que a maioria das bailarinas também ache, você deve gostar dela. Porque daí é muito mais fácil criar coreografia ou improvisar. Sua expressão sairá mais espontânea, disfarçando um pouco do nervosismo.

Outra coisa que direciona bem a escolha certa da música, considerando que o estilo já foi definido, é o tempo da mesma. Se você não tem condicionamento físico para dançar 8 minutos, por que você está insistindo em dançar "Raks Bedeya" completa? Não, não faça isso, supere seus limites aos poucos. Quer muito dançá-la? Então, edite a música! Eu mesma já recebi essa crítica da Shalimar Mattar em um concurso do MP. "Vá correr, Hanna, isso vai melhorar seu condicionamento físico!". E é verdade, gente. Um saco para a maioria, mas é verdade. Pilates, musculação, natação, que seja; procure outra atividade física para te dar também resistência, para que nas suas performances você não fique com cara de quem está colocando os bofes para fora.

Para a escolha do acessório, não basta que você se sinta bem dançando ou que sua mãe diga que você está linda; você precisa ter habilidade. "Mas acho lindo e adoro dançar com véu!" Adorar e se sentir bem não significa que você o maneje bem. Peça a opinião da sua professora quanto a isso. Na verdade, acho que ouvir a professora sempre cai bem! eheheheh

Então já temos estilo, música, tempo e acessório escolhido (caso haja algum); o que falta para eu definir a música exata? A roupa mais confortável para ela! Já passei por apertos por conta de roupa errada e escorrego às vezes, ainda. Se der para treinar antes a música com ela, perfeito! Músicas que exigem muito deslocamento, por exemplo, acho que atrapalha usar roupa justa. Mas creio que esse é um ponto bem particular.

Eu pedi para Melinda James dançar Oum Khoulsoum no meu show ano passado e a resposta dela foi a mais feliz possível; acho que isso refletiu muito na sua dança, que eu adorei:


Para completar o raciocínio, dá uma olhada nesse post do Amar el Binnaz e da Nadja El Balady.
Tudo resolvido? Ótimo! Como diria, Camilla D'Amato, "se joga, gata!"

Bauce kabira,
Hanna Aisha