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domingo, 16 de janeiro de 2022

Antiguidade é posto (?)

Fazer/trabalhar com DV parece ter validade; pelo menos, no Brasil. A não ser que eu esteja vendo esse quadro de um ponto de vista muito estreito.

Desde que acompanho a DV no Brasil desde 2000, acho que identifiquei um padrão; depois de certa idade (40?), você começa a ser deixada de lado pelo próprio mercado, principalmente pelas próprias bailarinas-alunas.

Como toda profissão, leva-se anos e anos de estudo e experiência para se atingir um estágio em que sua opinião é solicitada, sua experiência consultada. Mas, é nesse ponto do texto em que o título entra: antiguidade é posto?

Pessoalmente, eu detesto essa frase e não a reproduzo nunca porque não é verdade. Receber esse posto (que na dança costuma ser de "mestra", "madame", etc) deveria vir acompanhado de sabedoria, lucidez, experiência, conexão com a realidade, certa humildade em reconhecer que seus pupilos podem te superar. E sabemos que não é óbvio. Infelizmente, muitas bailarinas pararam no tempo em termos de estudo e reproduzem o mesmo discurso de 20, 30 anos atrás. Ao mesmo tempo, quantas bailarinas com uma bagagem incrível (mesmo que ainda não tenham atingido a categoria de mestra) são colocadas precocemente de lado em prol de bailarinas mais jovens, bonitas e acrobáticas, claramente sem experiência e estudo suficientes para estarem lado a lado dessas bailarinas "velhas"?

Tenho dificuldade em aceitar que bailarinas tão jovens ocupem o mesmo posto de bailarinas incríveis que ainda têm muito a oferecer (óbvio que existem exceções). Número de seguidores, títulos, estéticas grandiosas (corpo, roupa, fotos, vídeos) e virtuosidade técnica são mais valorizadas que conteúdo e experiência. Não estou falando do que você acha: estou falando do que vemos que traz público ou não.

Esse fenômeno não é exclusivo da DV, claro: essas mesmas discussões acontecem dentro das danças urbanas, por exemplo, que também são danças de origem popular (sugestão: Podcast Pé na Orelha). E é exatamente isso que me intriga: a DV, uma dança de origem popular, riquíssima em cultura (musical, geográfica, social, política) não ter esses aspectos mais explorados pelos praticantes.

Não sou cientista social para dar uma avaliação precisa sobre o quadro atual da nossa sociedade imediatista e consumista de superficialidades. E sei que soo meio rabugenta; alguns, dirão com dor de cotovelo. Porém, é só um desabafo no meu blog mesmo.

Eu parei para pensar muito mais nisso quando percebi que, aqui nos EUA, as pessoas ainda consomem o que bailarinas de 50-60 anos ainda oferecem. Por que deveria ser diferente? Você não costuma confiar mais em profissionais dessa idade do que os de 20 anos ou recém formados? Por que na DV você faz o contrário?

No fim, quase toda discussão que eu tenho/trago chega à mesma pergunta: por que você faz DV? Pra quê? Por que você consome o que você consome dentro dela?

Gostaria da opinião de vocês, mesmo baseado nesse texto reducionista - porque sei que a realidade não é tão simplista como coloquei.

Bauce kabira,

Hanna Aisha