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terça-feira, 1 de junho de 2021

Por que você produz conteúdos de dança?

Oi.

Olha a loucura; no meu último post, eu digo que acabei produzindo à beça, apesar da pandemia. Ontem, publico no meu Instagram que tenho tentado "passar alguma normalidade constante diante do genocídio no Brasil e de ver meu país sendo destruído, diariamente, por dentro, desde 2016". E estou numa posição privilegiada, pois estou vacinada e com a vida voltando "ao normal" (não deveríamos, mas vou deixar as questões políticas estadunidenses de lado, nesse momento).

Como eu escrevi lá, o que me renova as energias são boas notícias eventuais, bons momentos, consumo de boa arte. Mas, tenho tropeçado na produção de conteúdo de dança, seja escrever no blog, gravar vídeos, postar textos, etc. Mas esse post é para trazer a pergunta: por que você produz conteúdos de dança? Para quem? O que você ganha com isso?

Quando eu comecei meu blog em 2009, eu criei com o intuito de juntar as informações que eu conseguia e disponibiliza-las porque o acesso a conteúdo de DV era esparso, mais difícil, sem fontes, baseado em muito achismo. Com o tempo, as coisas foram se organizando cada vez mais e hoje, vejo o quanto tudo na DV brasileira melhorou. Hoje, temos diversas profissionais qualificadas, especializadas, fontes acadêmicas ou organizadas em artigos e livros, maior clareza e crítica por parte das praticantes, maior consciência social. Apesar de ainda vermos mitos e preconceitos sendo proliferados, também vejo que existe um movimento constante, prezando por conteúdo de qualidade e desmistificação.

A produção de conteúdo é uma preocupação constante para quem quer "estar presente" na internet, só que criar conteúdo de qualidade e com uma frequência alta não é nada fácil, pois é preciso planejamento, estratégia, metodologias. Não importa se é foto, texto, vídeo, live, podcast. O ideal é que esse conteúdo esteja alinhado com seus propósitos e também com as expectativas e necessidades do seu público-alvo. Esse papo todo aí é de marketing digital, existe um número infinito de "coaches" oferecendo orientação para isso e o post não é sobre isso.

O post é para trazer a reflexão sobre a pressão que profissionais autônomos, como os profissionais de dança, sofrem para isso. Temos que postar todas as aulas particulares que damos, ensaios que fazemos, trabalhos que participamos, roupas que compramos, livros que lemos, aliados a frases de impacto, ditas por personalidades importantes, fora a lacração com as hashtags do momento. E a ideia de que só porque você não está vendo, não significa que não esteja acontecendo não cabe mais nesse mundo colorido, feliz, produtivo, imediato, de delivery de conhecimento.

Não é nova a discussão de que nós mesmos somos produtos que geram lucros bilionários para essas empresas que gerenciam redes sociais como Facebook e Google, incluindo esse blog que vocês estão visitando (Blogspot é do Google). E não estou propondo que todos nós abandonemos essas redes de contato, que oferecem muitas vantagens. Minha preocupação aparece quando nós começamos a ficar extremamente preocupados em produzir sem parar porque desse jeito, "meu-número-de-seguidoras-vai-aumentar-e-com-isso-vou-conseguir-mais-alunas".

Essa mentalidade "empreendedora" e de positividade tóxica que o sistema atual nos vende diariamente nos faz acreditar em meritocracia, no american dream de que o estagiário vira o presidente da empresa, de que é só esforçar que você vai conseguir, de que é só manter o pensamento positivo que as coisas irão acontecer, ignorando que machismo, racismo, gordofobia, desigualdade social existem e continuam firmes, obrigada.

Não compreender o conceito de orientalismo; o que significa ser árabe no mundo; a origem da dança do ventre e suas implicações; o neoliberalismo; o quanto seu país é machista, racista, gordofobico e elitista; o que significa ser profissional de danças árabes no mundo e no país que você mora vai dificultar sua compreensão do seu papel nas redes sociais e o que ele irá te trazer de retorno real, apesar de TODO SEU ESFORÇO EM AUMENTAR SEU NÚMERO DE SEGUIDORES E, COM ISSO, AUMENTAR SUA RENDA, de alguma forma.

Não basta pagar rios de dinheiro com coach que promete que vai te trazer dinheiro, curso de marketing digital ou até mesmo, coaching artístico. Ferramenta só funciona se usada da forma correta.

A maioria de nós está no meio do oceano em um barco com remos apenas e, não num transatlântico, como 0.25% da população mundial.

Diminua. Reflita. Por sua saúde física e mental.
Essa reportagem está em inglês, mas vale ler, coloca no tradutor.

Bauce kabira,
Hanna Aisha