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terça-feira, 26 de junho de 2012

Desconstruindo leituras (9)

É possível dançar "Aziza" sem fazer grand battement! Você não sabia?


Bauce kabira,
Hanna Aisha

domingo, 17 de junho de 2012

DVDs de Dança do Ventre - parte 2

"The Bellydancers of Cairo" é um DVD produzido em 2005 pela bailarina estadunidense Natasha Senkovich e ela foi ao Cairo para se aprimorar e descobrir diferentes opiniões sobre a Dança do Ventre. Ela realiza entrevistas com diversas bailarinas, perguntando principalmente sobre a situação de uma bailarina profissional no Cairo. Farei um resumo sobre os principais comentários e desde já recomendo fortemente esse DVD. Não sei se existe alguma cópia que possua legenda em português...

As entrevistadas foram Samasen, Lucy, Dina, Khayyreya Mazin, Rabab, Eman Zaki, Nagwa Sultan, Aida Nour, Doaa Hegazy, Zahra Zuhair, Katia, Marwa, Soraya Zaeid e Diana. Ainda entrevista Gigi De Manais, etinóloga de dança e dois homens, parentes seus.

A Dança do Ventre ainda é muito popular e é utilizada em casamentos para entretenimento e abençoar com fertilidade. Porém ainda existe muito preconceito e as roupas são um motivo, que mudou por conta da influência ocidental e de Hollywood, já que as ghawazee eram mais cobertas. A atriz Maud Allan, atuando como Salomé, também foi uma grande influência. Eman Zaki é uma atual estilista e disse que a Badia Masabni exigia de suas bailarinas treinos diários e que respeitava-se mais as bailarinas da Golden Era porque elas não mostravam tanto o corpo como hoje. E o Corão não permite que a mulher "decente" dance e elas nunca casam com alguém de família "decente", não se aceita [Observação minha: o que entendo por não mostrar tanto o corpo era a barriga, porque as pernocas, babies, apareciam e muito!]. Nagwa Fouad mudou o show de DV, com um tom a Las Vegas e foi a primeira bailarina a produzir suas músicas e, para ela, atuar dava mais dinheiro.

Para ser uma bailarina de sucesso no Cairo, segundo:

Samasen: é preciso um ano para se fazer nome, senão você não ganha respeito. Acha que a DV vai voltar a ser melhor porque está sendo sustentada pelos outros países e ela está feliz com isso [Viva nóis!]. Nenhuma estrangeira vira estrela no Cairo (!).

Aida Nour: não adianta ter habilidade física apenas, mas entender árabe, sentir a música, amar dançar e amar ser bailarina.

Nagwa Sultan: deve-se amar a música árabe e saber se mexer no oriental way. É preciso amor, talento e inteligência. Ela diz que o Egito está ficando cada vez mais conservador e as bailarinas aparecem cada vez menos nos casamentos.

Katia: é preciso criar novos movimentos, ter roupas bonitas e boa orquestra (o que é difícil). A economia está ruim e a influência da religião está maior, assim como a nova geração quer ser mais europeia. Os casamentos não têm DV e sim DJ para dançar. [Observação minha: em uma das vezes que dancei em SP, nessas casas com árabe, escutei isso de alguém com relação ao dabke. Para a nova geração, dabke é coisa de velho. E aí?]

Lucy ainda dança, tem um restaurante e diz que dança com sentimento e faz as pessoas olharem para seu lado feminino e não o sensual. Ela não gosta do cinema com DV porque ela acha que eles colocam a DV de maneira ruim. Samasem concorda e diz que esses filmes passam todo dia na TV e por isso o povo tem uma visão errada [Achei esse comentário particularmente interessante].

Além disso...
Dizem que para ser famosa é necessário dinheiro para investir e ter um produtor. E se você não é famosa, os empresários vão te usar por razões políticas. Todo manager quer saber se você quer se prostituir, não importa o nível. Hani Sabet, que é produtor, diz que prostituição e DV sempre andavam juntas e acredita estar diminuindo hoje em dia [Comentário interessante para as bailarinas mais puritanas].

Nos cabarés atuais...
É bem diferente: elas não têm troca de roupa e ganham dinheiro fácil. Muitas vão para fazer dinheiro rápido, mas não querem ficar ali para sempre.

No geral, elas demonstraram nas entrevistas muita confiança em si e em sua qualidade como bailarina. Mas ainda fica a dúvida se eles preferem fama e dinheiro ou segurança?

Ainda rola um extra com performances de várias entrevistadas assim como o comentário da diretora Natasha e do cameraman. Não encontrei no YouTube algum trailer sobre o DVD, mas achei essa parte em que ela filma a Soraia dançando e que está no DVD:


Bauce kabira,
Hanna Aisha

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A arte do improviso

Alguns blogs já escreveram sobre o improviso em DV. Eu, particularmente, decidi que esse ano de 2012 seria o ano do improviso para minhas alunas e não há uma aula sequer que eu não feche com improvisação. Fora todas as avaliações que já estão programadas esse ano. "Eu sou carrasca, apenas isso?" Não, de maneira alguma. Faço isso porque sei que elas possuem um repertório de movimentos razoável, o que falta é colocá-los em prática. Isso me lembra minhas aulas de inglês cujo método se baseava em uma coisa parecida: "com 100 palavras em inglês é possível comunicar-se. É apenas questão de saber utilizá-las". Eu não só concordo, como faço isso, sem estresse. O vocabulário vai crescendo à medida que a segurança aumenta porque o "básico" está dominado e automático. 

Não sou contra coreografias, de maneira alguma! Mas acho que trabalhar o improviso ajuda sim no raciocínio rápido, na leitura musical e na expressão.

Algumas dicas gerais para improvisar

- Ouvir música árabe. Muito. Para entender um pouco (porque entender MESMO, acho que algumas poucas bailarinas entendem) de música árabe, sua estrutura, suas nuances, seus sotaques.

- Ensaiar regularmente os temas trabalhados. Não adianta achar que 1 hora e meia por semana de aula vai te tornar uma bailarina cada vez melhor. Doce ilusão que eu testei e não funcionou. Só sai se colocar em prática, não adianta. Já diria Shaide Halim: "Mas... sem técnica a coisa se complica um pouco mais. Porque a emoção só aparece verdadeiramente quando estamos tranquilas com o que faremos com nosso corpo, quando dominamos os passos, quando sabemos a sequência da coreografia ou, mesmo numa apresentação de improviso, quando conhecemos a música e sabemos o que fazer com ela. Ou seja, quando lidamos bem com nosso repertório de movimentos já estudados, já enraizados, já habilmente sabidos por nosso corpo".

- Nunca fiz isso de me filmar ensaiando, mas dizem que funciona. Só me vejo mesmo quando me filmam dançando, coisa que peço para fazerem sempre que dá, mesmo que eu não tenha a intenção de colocar no youtube.

- Trabalhar a timidez. Aproveitar os momentos em aula para improvisação ou exercício ajudam MUITO a diminuir a timidez diante do público. E isso interfere diretamente na sua segurança e consequentemente, na sua expressão.

Algumas dicas mais técnicas:

- Identificar o estilo musical que está sendo tocado. Rotina, balady, folclore, pop, moderno... No geral, isso não é um grande problema, pois sabe-se que estilo se irá improvisar, principalmente, se for um concurso.

- Identificar o tempo da música e, se puder, o ritmo. O ritmo pode dar dicas sobre movimentos e eu falarei exatamente sobre isso aqui no blog em algum momento.

- Identificar os instrumentos. Os instrumentos, como já venho falando nos posts sobre taqsim, não só dão dicas como recomenda-se, fortemente, segui-las.

- Criação de sequências para utilização nos improvisos. Eu, particularmente, não utilizo dessa dica, mas esse tipo de dica é comum.

Dicas mais elaboradas:

- Se os movimentos estão dominados, assim como a leitura dos ritmos, o que falta mesmo é trabalhar a expressão e a espontaneidade. E para isso, é preciso perceber qual o "humor" da música: alegre, triste, introspectiva, etc. para que você o sinta e traduza com o corpo, mexendo principalmente com a intensidade dos movimentos.

- Colocar em prática assim que tiver oportunidade! Não importa se é em sala, festa de família, festa da escola ou restaurante.

- Claro que é importante trabalhar bem as emendas e as finalizações dos passos, mas isso já faz parte de técnica em si, não só de improviso.

Você não precisa fazer 50 passos em um minuto, esquece isso! O bonito não é ver pernas, giros, cabelos e arabesques em 30 segundos, mas tocar profundamente quem te assiste e fazer da sua performance, uma na lista das inesquecíveis! Além, claro, de fazer você se sentir bem consigo mesma.

Fazer simples porém, com segurança, é certeza de sucesso!

E aqui, meu vídeo participando do concurso E-ventre 2012 na Categoria Solo Profissional, em que se improvisava uma música sorteada de uma lista de 12, reveladas anteriormente, pela organização:


Para saber mais:
- Luana Mello, para mim, que será sempre uma grande referência em DV: http://www.centraldancadoventre.com.br/artigos/175-encarando-o-improviso (ela tirou o blog do ar, ok, gente? Sad, but true.)
- Nesse artigo, uma visão parecida com a minha: http://www.centraldancadoventre.com.br/artigos/93-improvisando

Bauce kabira,
Hanna Aisha

terça-feira, 5 de junho de 2012

Sensualidade e a Dança do Ventre

A Dança do Ventre ou Dança Oriental (que seja) traz consigo a magia da feminilidade e da sensualidade, seja realizada por mulheres ou homens. E já escrevi, mais de uma vez, dizendo que certas expressões artísticas que se inspiram na DV são válidas. E continuo achando que são válidas! Acho que o contexto faz toda a diferença para o entendimento daquele elemento em cena.

Não sou antropóloga nem psicóloga e não tenho propriedade nenhuma em dissertar sobre o papel da mulher na sociedade, na evolução cultural, no cotidiano... o que eu sei, minimamente, é falar sobre a questão da sensualidade da DV baseada na minha experiência, desde que comecei a aprender as mãozinhas em uma academia de ginástica.

[O que mais me perguntam é se é preciso ter barriga para fazer DV. Não me lembro de ter me deparado com algum comentário ou pergunta desagradável. Ufa.]

Para mim, sensualidade é um comportamento, uma característica, geralmente, pessoal, que atiça os sentidos de outra pessoa. Ela não está necessariamente ligada à uma dança, mas acho que a Dança do Ventre permite sim, que a sensualidade de todas as praticantes possa aflorar, a partir do momento em que se deixa a barriga de fora, faz-se movimentos sinuosos e a autoestima começa a ser trabalhada. O que nem sempre ocorre com o folclore árabe, por exemplo.

A sexualidade de um indivíduo define-se como sendo as suas preferências, predisposições ou experiências sexuais, na experimentação e descoberta da sua identidade e atividade sexual, num determinado período da sua existência (Wikipedia). Ou seja, sexualidade e DV não parecem ter a ver um com o outro, correto?

Eu já fui contra ensinar DV às mulheres que queriam apenas dançar para seus maridos. Hoje, eu não vejo nenhum problema em participar como uma ponte de felicidade entre duas pessoas. Por que não utilizar a aura de "odalisca" para fazer um casal feliz?

Indo para a realidade de trabalho das bailarinas de DV: como desmistificar o imaginário popular sobre a relação entre sexualidade/vulgaridade e DV? É nosso papel? Ou é falso moralismo? Quem ainda não dançou para seu respectivo (a)? Como disseminar o outro lado da DV, que não apenas a sensualidade intrínseca? Recuso um b$m trabalh$ e abro mão dos meus princípios?

Fica aí para TODAS pensarem.

Bauce kabira,
Hanna Aisha