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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Leitura Musical

"Quaisquer verdades transmitidas pela linguagem estão incorporadas na linguagem e sua verdade é um exército móvel de metáforas, metonímias e antropomorfismos (Nietzche). O Oriente recebeu um amplo campo de significados, associações e conotações que não se referiam necessariamente ao Oriente real, mas ao campo que circundava a palavra". Edward Said - Orientalismo

Você já participou de algum tipo de avaliação e ali, foi mencionado que sua musicalidade ou leitura musical precisava ser trabalhada? Eu já publiquei um artigo no CDV que tratou sobre o tema, mas aqui eu queria trabalhá-lo com um pouco mais de detalhe. Improviso e leitura musical são temas recorrentes no nosso meio e os dois conversam porque abrangem alguns aspectos em comum que precisam ser trabalhados separadamente.

Para mim, para que sua técnica de improviso desenvolva, você precisa estudar leitura musical antes. Tentar improvisar sem ter o conhecimento básico disso (claro que a prática está incluída nesse treinamento) e deixar apenas o seu corpo se deixar levar pela música, torna o caminho mais difícil, se você pretende melhorar seu improviso tecnicamente.

A partir de quando eu posso começar a estudar leitura musical?
Com um vocabulário mínimo de passos, já é possível começar a estudar leitura musical. “com 100 palavras em inglês, é possível comunicar-se. É apenas questão de saber utilizá-las”, já dizia o método do curso de inglês que eu fiz. Quem já viajou para fora do país sem saber muito bem a língua nativa, sabe que isso é verdade.

Quando falamos em começar a estudar leitura musical, estamos falando justamente de três coisas, como já abordei aqui no blog: estudo dos ritmos, leitura dos instrumentos e diferenciar os tipos de músicas. Vamos ver cada um deles agora:

- Aprender o mínimo sobre ritmos
Já tratei com mais detalhe sobre o estudo dos ritmos aqui no blog. É preciso aprender o mínimo mesmo, para começar. Aprender sobre os diferentes ritmos te ajuda a identificar o número de tempos da música, por exemplo. Essa informação ajuda muito a compor sua leitura musical, pois sugere movimentos que devem ser feitos. Uma coisa é se deslocar em 2 tempos e outra coisa é se deslocar em 4 tempos. É isso que vai te deixar “dentro do ritmo, pisando no dum” e, com isso, dançando de forma harmoniosa, sem parecer que está “dançando com fone de ouvido”, ou seja, em que parece que você está ouvindo uma música enquanto está tocando outra. Até leigos são capazes de perceber que há algo estranho naquela dança, pois, intuitivamente, ele não conecta o que vê com o que está ouvindo, mesmo sem ter ideia de técnicas de dança ou sobre a música em si. Nesse vídeo, a música que a Marta dança começa com fallahi (chamado por alguns de maqsoum acelerado, com 2 tempos), que vai emendar em um masmoudi, que tem 4 tempos (2:20), voltando rapidamente ao fallahi em 3:07. O clima e até os movimentos da dança "mudam" por conta da troca dos ritmos:


- Entender os diferentes tipos de música
Não basta ouvir apenas música egípcia ou libanesa, que são as músicas que estamos mais acostumadas a trabalhar. Também precisamos distingui-las das músicas gregas, turcas ou marroquinas porque elas estão presentes nas nossas playlists e, normalmente, nem sabemos. Mas percebemos que não é uma música "normal" porque elas soam diferentes e, ainda assim, as usamos sem saber. Esse conhecimento não interfere diretamente na sua leitura musical, absolutamente. Mas pode ser importante você ter a consciência de que elas vieram de culturas diferentes e, assim, talvez, isso influencie na escolha dos seus passos, expressão corporal e até contextos para dançá-las.

Além disso, qual é a modalidade? É um folclore, rotina oriental, erudita, pop, moderna? Qual é a "roupagem" da música? Mais moderna ou "analógica"? Você acha que a leitura do shaabi abaixo deveria ser a mesma a de um pop?



- Identificar os instrumentos
Não é uma delícia assistir uma bailarina realizando um taqsim de violino bem executado, daqueles que você nem se mexe de tanta admiração? Pois é, alguns discordam, mas, hoje em dia, eu acho que esse tipo de leitura não necessariamente precisa ser feito com extremo rigor para que você demonstre o quanto você é habilidosa com seu corpo. Uma boa leitura musical também pode ser feita sem precisar marcar todos os acentos dos instrumentos. Aqui no blog, fiz 5 posts diferentes, falando sobre cada um deles  - procura no blog "Instrumentos mais comuns na DV para Taqsim". Abaixo, um lindo exemplo de leitura de instrumentos:


A influência  e as referências que recebemos na nossa vida também irão afetar nossa maneira de ouvir e dançar; não há como dissociar nosso histórico corporal e o ambiente que vivemos da nossa expressão corporal em geral, inclusive da nossa dança (como já diria Klauss Vianna). Mas espero que, com essas orientações, eu tenha ajudado você a organizar os pensamentos (quem sabe até ajudar com um planejamento) na sua busca eterna por aprimoramento e satisfação com a dança e com você mesma! Depois, dá uma olhada na coluna do blog Desconstruindo Leituras para ver várias danças que fugiram da leitura "tradicional e previsível" que temos da DV. Aproveita e repensa também a escolha das suas músicas, lendo esses dois artigos:


Aqui eu dancei uma música turca e por ser relativamente monótona, me preocupei bastante com a leitura musical para que não ficasse chata:


Aqui, a aula online que eu dei, falando sobre o que eu escrevi hoje:


Quer aprender a dançar em casa? Segue essas dicas aqui!
Quer fazer aulas online? Dá uma olhada aqui.

Bauce kabira,
Hanna Aisha

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