Translate this blog!

sábado, 2 de março de 2013

Dança Ghawazee

Post revisto e reescrito em 22/03/2015

Ghawazee = bailarinas. Ghazia = bailarina. A pronúncia correta em árabe de "gh" não é um "gu" (como em guerra) e sim um som gutural que mistura o "g" e o "r". Vai parecer um "r" bem forte, fechado e "entalado".

Já vimos que as ghawazee podem participar bastante do cotidiano dos egípcios, sendo contratadas para dançar em festas no geral, principalmente casamentos. Mas quem são elas?

As ghawazee tocam diversos instrumentos além de dançarem, pois vivem de shows e outras atividades. A dança é caracterizada por ter movimentos grandes, soltos, cadenciados e marcados dos quadris, aliado à ginga do corpo, sem ponta alta. Batidas fortes e pé no chão (pode haver a presença de guizos indianos) devem estar presentes e o uso do cabelo é bem-vindo. Os trajes mais antigos compreendem saias sobrepostas e moedas pois era o local onde guardavam seu dinheiro e jóias. A música sempre tem mizmar e rebab tocando, com letras repetitivas e os ritmos comuns são maqsoum (variação somboti), laff, fallahi e said (com um andamento diferente, geralmente, com apenas um mizmar tocando).

Um pouco de história: Descendentes de ciganos de diferentes castas oriundas da Índia, foram banidas por Mohamed Ali para o Alto Egito (sul) em 1834 (mesmo após terem se estabelecido há tempos no Egito) por não usarem véu, mesmo sendo muçulmanos e "usarem o corpo" para ganhar dinheiro. Lá, incorporaram elementos sulistas, como bastão (o que, provavelmente, originou o Raks Assaya) e o pandeiro, e a roupa com corpete. As ghawazee do norte usam a galabya com lenço de quadril. Em 1866, elas voltam para o Cairo, sob a condição de pagarem impostos.

Quer mais história? No site Gilded Serpent, tem uma série de artigos sobre Ghawazee e o primeiro é este.

Podemos identificar dois tipos mais comuns e estudados de dança ghawazee, já que a tradição tem se perdido dentro do próprio Egito devido à sua marginalização social: sombouti e maazin. É importante entender que a dança ghawazee não tem refinamento técnico, mas ao pensar palco, lembre-se que a performance passa a ganhar o caráter de show, logo, um pouco de refinamento cai bem.




Nos anos 70, Aisha Ali foi a primeira bailarina norte-americana a ir estudar no Egito e foi ela quem levou as danças folclóricas, inclusive ghawazee no estilo Maazin, para conhecimento das bailarinas profissionais da época. Ela ainda dá aulas e tem um série de vídeos à venda:


Como mencionado, o somboti também é um ritmo e as ghawazee dessa região possuem um estilo mais "rude" de dança e inspirado nas tribos beduínas próximas. Já, as ghawazee maazin tem um estilo mais delicado, adaptado à ocidentalização para shows, que foi criado pela família Maazin, que trabalha até hoje:


Aqui no Brasil, a Aysha Almeé diz que seu ghawazee é sombouti:


A dança das ghawazee é a base da Dança do Ventre contemporânea e do ATS. Por quê? Isso vem do contexto histórico em que Napoleão invade o Egito e toda sua tripulação fica chocada com as ghawazee. Nunca ouviu falar de que é por conta dele que a danse du ventre chega na Europa e ganha o mundo? Não sei é verdade, ainda não me deparei com nenhum registro escrito (alguém sabe?), mas tem sentido.


Toda base das ghawazee são utilizadas pela Dança do Ventre no início do século 20, quando as nightclubs surgem no Cairo. Várias tentaram seguir o caminho do estrelato sendo bailarinas de Dança do Ventre, autodenominando-se, inicialmente, como awaleen (isso dá pra ser outro post).

Fontes: Aulas com Melinda James, Luciana Midlej e Samra Sanches, Me Khellav.

Bauce kabira,
Hanna Aisha

8 comentários:

  1. Arrasou Hanna, obrigada pela compilação do conhecimento. Sempre tem muito a ler, vou começar. O Somboti no fim me fez querer estudar mais a ghawazee por causa daquela história que te contei Beijos

    ResponderExcluir
  2. excelente matéria,Hanna!!!!seu site é muito legal.

    ResponderExcluir
  3. Nossa que post maravilhoso. As ilustrações que você trouxe e a contextualização ficaram ótimas.

    ResponderExcluir
  4. Muito bom, Hanna. Adorei. Parabéns!!!! Bjs.

    ResponderExcluir
  5. Legal vc ter trazido isso. Fiz um post lá no andanças sobre a ausência dessas danças folclóricas nos grandes palcos do país. Estou com intenção de começar a estudar gawazee a partir de abril. Tenho uns vídeos aqui de um work da Samya-Jú que vou vê se depois consigo disponibilizar no youtube. Um abraço, flor e obrigada pelas referências.

    ResponderExcluir
  6. Hanna muito obrigada pela oportunidade, por fornecer a nós sedentas de conhecimento, estudos e fontes maravilhosas. Essa matéria caiu como uma luva. Foi o que eu disse a uma amiga minha há poucos dias: Estudo e dedicação são a chave para a evolução da bailarina. Isso serve pra vida.

    ResponderExcluir
  7. Gostei mais do Somboti do que dos outros estilos! <3

    ResponderExcluir
  8. Muito bom o editorial. Bem explicado e rico em detalhes.

    ResponderExcluir