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sábado, 1 de novembro de 2014

O que é folclore árabe?

Querida bellydancer,

É impossível resistir; em algum momento, você vai esbarrar com o folclore árabe. Estudar Folclore Árabe é uma das coisas mais difíceis dentro da nossa dança pois a nossa principal referência é o trabalho de Mahmoud Reda, grande bailarino e coreógrafo responsável, durante décadas, pelo Reda Troupe, uma companhia de balé egípcio que existe até hoje. Como o próprio nome diz, é uma companhia de balé e, por conta disso, tem licença poética para levar aos palcos vários tipos de folclore que o próprio Reda pesquisou em campo, no Egito. Então, fica a pergunta: o que é folclore árabe? Apenas o que o Reda desenvolveu? Como aprofundar? Não há como saber/estudar outras nuances?


Existem alguns tipos de folclores que podem ser levados aos palcos com mais autenticidade pois são ainda muito vivos e presentes no cotidiano de povos que temos acesso mais fácil, como o Dabke Libanês:


Quais seriam as modalidades que se encaixariam no quesito "Folclore Árabe"? É, existem algumas polêmicas com relação a isso pois algumas são consideradas "dança popular" por algumas bailarinas enquanto outras, categorizam como folclore, como o balady. E outras não existem como manifestação folclórica e sim teatral, como o meleah-laff:


Já a Dança Said é um exemplo de folclore em que as mulheres se apropriaram e levaram para os palcos, apesar da inspiração vir de uma dança masculina, o tahtib:


Munira Magharib diz em seu DVD de Balady que para você dançar bem uma dança, é preciso entender a fundo o seu povo, senão você acaba fazendo apenas uma encenação, uma representação. E até aí, tudo bem, não há problema nisso. A Dança Fallahi é um exemplo claro de representação/encenação e a minha, não seria muito diferente, principalmente, se ela está sendo executada em um palco:


Qual seria o problema que algumas bailarinas com quem conversei já detectaram? Temos visto um excesso de licença poética que estão dando aos folclores, principalmente em concursos. E também é muita responsabilidade dizer que sua performance folclórica é tradicional. Isso tudo que disse antes não deveria te impedir de dançar folclore árabe, contanto que seja bem estudado e embasado. Você também pode colocar um excesso de licença poética no seu folclore, contanto que isso fique bem explícito na sua proposta. O trabalho da Nagla Yacoub é um exemplo muito claro do que acabei de explicar:


O que está errado é dizer que você pode fazer o que quiser e colocar suas impressões/sentimentos/gostos pessoais na sua performance folclórica. Por exemplo, existe código de figurino folclórico sim, assim como de estrutura musical! E quem diz que não existe código de figurino para funk ou samba não sabe o que está falando. Como a Nilza Leão mesma diz, o que nos parece fantasia de palco, para os árabes não é!

Voltando à pergunta inicial: o que é folclore árabe? Apenas o que o Reda desenvolveu? Não há como saber/estudar outras nuances? Na minha opinião:

- Folclores árabes são as manifestações específicas de regiões que pertencem aos países do Oriente Médio, que exigem determinados figurinos e músicas e que representam uma tradição/cultura local ou carregam algum simbolismo. Exemplos: Said, Fallahi, Núbia, Hagalla, ZaffeGhawazee etc. Para nós, que vemos de fora, tudo parece "exótico, étnico". As danças populares seriam uma expressão cotidiana como, por exemplo, Shaabi, Balady, KhalijiDabkeMambouti/Semsemeya. Mas isso não é consensual, ok? Acho extremamente difícil fazer essa classificação, do ponto de vista ocidental mesmo. Eu uso essa por questões didáticas. O próprio  termo "folclore" é bastante ocidental.

- Não, o Reda não pode ser sua única referência de folclore porque o que ele desenvolveu é bastante ocidentalizado perto do que é "real". Mas é um ponto de vista que apareceu a partir de suas pesquisas de campo.

- Sim, há como saber/estudar outros "pontos de vista" sobre folclore, já que alguns são bem difíceis de acessar. Cada vez mais existem profissionais qualificados em folclore; alguns conseguem ir nos países de origem para estudar e isso pode facilitar bastante entender/captar esse "espírito" que, comumente é difícil de entender, pois não é nossa realidade. Pesquise/procure por esses profissionais, não se prenda ao senso comum pois você pode (irá) se surpreender!

Por mais ousadia e menos medo porém, por mais estudo!

Bauce kabira,
Hanna Aisha

3 comentários:

  1. Olá! Saudades das postagens, garota! Para complementar, segue o podcast sobre Folclore com Marcia Dib: http://www.saladedanca.com.br/podcast-60/

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    1. Lembrei ontem de noite e coloquei no post antes de ver seu comentário! Obrigada por lembrar de qualquer maneira! Beijos

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  2. Hanna como sempre nos preparando para o melhor!!!
    Pois concordo com você em cada palavrinha.
    Amo folclore e é algo que pretendo estudar e me atualizar sempre!!
    É complicado quando se trata de concurso, onde muitos que julgam têm uma visão totalmente diferente do outro e muitas vezes a verdade de um não é a mesma verdade do outro. Temos que saber filtrar isso e só absorver o que vai nos acrescentar!! É claro que toda crítica sendo construtiva, a bailarina poderá se preparar melhor para toda dança, seja ela qual for!!
    É claro que quando você sabe que aquele certo julgador vai a fonte e estuda "in loco" faz uma baita e grande diferença. Diferente de muitos que pegam informações apenas pelo Google ou relatos com bases na maioria distorcidas e contradizem muitos estudos de quem está lá buscando diariamente e "mamando na fonte" entende!?
    Bom, eu certamente só sei que nada sei!!!! Estou ainda na busca desses ricos conhecimentos dessa cultura que é tão linda e caiu em minha vida de forma tão plena!!
    E com base em avaliações dos concursos eu retiro o melhor daqueles que eu sei que certamente faz a diferença e que estuda, que busca com profissionais capacitados para tal tema, que dança com a alma e o coração, que ama de fato o que faz. Retiro disso também toda a crítica que seja construtiva para que a minha dança seja aperfeiçoada de maneira limpa!!! Eu agradeço aos meus mestres que sempre me incentivam me ajudam na construção de cada performance de folclore árabe.
    Obrigada pelo post Hanna :)

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