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domingo, 22 de agosto de 2021

Meu blog não é referência bibliográfica

Queridos leitores,

Não quero passar por ingrata, depois de tantos anos sendo lida por vocês, mas acho que vale a pena esclarecer uma coisa, que pode ser do desconhecimento de muitos. Começando pelo título/fim, meu blog não é referência bibliográfica! Isso não significa que blogs não podem ser referências e é sobre isso que vou explicar nesse post.

Ao longo desses anos todos, desde 2009, tenho recebido mensagens de como meu blog ajudou as pessoas, sendo na preparação dos seus TCCs ou das suas aulas. Ou mesmo ajudou a esclarecer ou introduzir temas sobre a dança que fazemos. E eu sempre fiquei muito lisonjeada e o público sempre foi um combustível para eu continuar esse trabalho (a partir do momento que esse retorno diminuiu, os posts também diminuíram).

Porém, por que ele não pode ser usado como referência bibliográfica? Porque os artigos produzidos aqui não são resultado de pesquisa acadêmica; são compilados de informações que fui juntando ao longo dos anos, com a intenção de serem compartilhadas.

É muito importante entender o contexto do surgimento e manutenção desse blog: por mais estranho que pareça, em 2009, apesar de já termos tido acesso à internet e YouTube, as informações sobre Danças Árabes ainda eram compartilhadas no boca-a-boca, ou seja, através de workshops, aulas, blogs, sites. E o problema disso é que, sem referências baseadas em pesquisa e revisão por pares, tudo acabava sendo anedotico, ou seja, "foi o que a fulana disse", "foi o que a fulana disse que viu", "foi o que a fulana ouviu falar"... e isso, foi (e ainda é) um problema, pois muita desinformação é espalhada por conta disso.

Produzir conhecimento através da pesquisa é um processo longo, trabalhoso e que demanda interação entre pares para troca de informações. É muito bom ouvirmos o que queremos ouvir, junto de um "comprovado cientificamente". Na verdade, quando se trata de assuntos das ciências humanas, nem existe muito essa ideia de "comprovado cientificamente". Porém, o resultado de pesquisa nessa área, como, por exemplo, a história da dança ou qualquer outra análise sociológica, antropológica, pedagógica, etc surge a partir de uma hipótese, demanda coleta de dados para testar essa hipótese, muita leitura e estudo para analisar os dados, busca de fontes confiáveis e conclusão a partir de toda essa vivência, sob a orientação de alguém mais experiente na área.

E meu blog não cabe nisso. Não que eu não tenha estudado, filtrado informações, buscado fontes de confiança e não tenha pensado por mim mesma. Eu sempre fiz isso. Mas eu nunca tive a orientação  de alguém, não tive formação básica em determinadas disciplinas que poderiam me ajudar a pensar sobre os assuntos estudados, nunca parti de nenhum lugar. O que sempre fiz foi recolher as informações que eu coletava sobre o tema (as fontes estão no final de cada post), pensava por mim mesma, ou seja, filtrava o que eu recebia e postava. Ainda me pego revisando um post ou outro porque aquilo ali não faz mais sentido.

Mas, existem blogs que eu usaria como fonte bibliográfica por abarcarem muitas fontes primárias de informação ou por publicarem artigos resultantes de pesquisas acadêmicas:

Shira.net, Gilded Serpent, Hunna Coletivo

E livros. Os que eu leio, eu faço um post comentado aqui (nem todos, exatamente, seriam fontes bibliográficas também, dependendo do assunto de interesse).

Mas se você ainda busca blogs no meu estilo, vê os que eu sigo no fim da página - alguns que eu seguia, infelizmente, fecharam. Talvez o meu blog ainda caiba como referência dependendo do tema - mas escreva seu TCC procurando fontes mais sólidas; o meu virá como fonte complementar!

Bauce kabira,

Hanna Aisha

terça-feira, 1 de junho de 2021

Por que você produz conteúdos de dança?

Oi.

Olha a loucura; no meu último post, eu digo que acabei produzindo à beça, apesar da pandemia. Ontem, publico no meu Instagram que tenho tentado "passar alguma normalidade constante diante do genocídio no Brasil e de ver meu país sendo destruído, diariamente, por dentro, desde 2016". E estou numa posição privilegiada, pois estou vacinada e com a vida voltando "ao normal" (não deveríamos, mas vou deixar as questões políticas estadunidenses de lado, nesse momento).

Como eu escrevi lá, o que me renova as energias são boas notícias eventuais, bons momentos, consumo de boa arte. Mas, tenho tropeçado na produção de conteúdo de dança, seja escrever no blog, gravar vídeos, postar textos, etc. Mas esse post é para trazer a pergunta: por que você produz conteúdos de dança? Para quem? O que você ganha com isso?

Quando eu comecei meu blog em 2009, eu criei com o intuito de juntar as informações que eu conseguia e disponibiliza-las porque o acesso a conteúdo de DV era esparso, mais difícil, sem fontes, baseado em muito achismo. Com o tempo, as coisas foram se organizando cada vez mais e hoje, vejo o quanto tudo na DV brasileira melhorou. Hoje, temos diversas profissionais qualificadas, especializadas, fontes acadêmicas ou organizadas em artigos e livros, maior clareza e crítica por parte das praticantes, maior consciência social. Apesar de ainda vermos mitos e preconceitos sendo proliferados, também vejo que existe um movimento constante, prezando por conteúdo de qualidade e desmistificação.

A produção de conteúdo é uma preocupação constante para quem quer "estar presente" na internet, só que criar conteúdo de qualidade e com uma frequência alta não é nada fácil, pois é preciso planejamento, estratégia, metodologias. Não importa se é foto, texto, vídeo, live, podcast. O ideal é que esse conteúdo esteja alinhado com seus propósitos e também com as expectativas e necessidades do seu público-alvo. Esse papo todo aí é de marketing digital, existe um número infinito de "coaches" oferecendo orientação para isso e o post não é sobre isso.

O post é para trazer a reflexão sobre a pressão que profissionais autônomos, como os profissionais de dança, sofrem para isso. Temos que postar todas as aulas particulares que damos, ensaios que fazemos, trabalhos que participamos, roupas que compramos, livros que lemos, aliados a frases de impacto, ditas por personalidades importantes, fora a lacração com as hashtags do momento. E a ideia de que só porque você não está vendo, não significa que não esteja acontecendo não cabe mais nesse mundo colorido, feliz, produtivo, imediato, de delivery de conhecimento.

Não é nova a discussão de que nós mesmos somos produtos que geram lucros bilionários para essas empresas que gerenciam redes sociais como Facebook e Google, incluindo esse blog que vocês estão visitando (Blogspot é do Google). E não estou propondo que todos nós abandonemos essas redes de contato, que oferecem muitas vantagens. Minha preocupação aparece quando nós começamos a ficar extremamente preocupados em produzir sem parar porque desse jeito, "meu-número-de-seguidoras-vai-aumentar-e-com-isso-vou-conseguir-mais-alunas".

Essa mentalidade "empreendedora" e de positividade tóxica que o sistema atual nos vende diariamente nos faz acreditar em meritocracia, no american dream de que o estagiário vira o presidente da empresa, de que é só esforçar que você vai conseguir, de que é só manter o pensamento positivo que as coisas irão acontecer, ignorando que machismo, racismo, gordofobia, desigualdade social existem e continuam firmes, obrigada.

Não compreender o conceito de orientalismo; o que significa ser árabe no mundo; a origem da dança do ventre e suas implicações; o neoliberalismo; o quanto seu país é machista, racista, gordofobico e elitista; o que significa ser profissional de danças árabes no mundo e no país que você mora vai dificultar sua compreensão do seu papel nas redes sociais e o que ele irá te trazer de retorno real, apesar de TODO SEU ESFORÇO EM AUMENTAR SEU NÚMERO DE SEGUIDORES E, COM ISSO, AUMENTAR SUA RENDA, de alguma forma.

Não basta pagar rios de dinheiro com coach que promete que vai te trazer dinheiro, curso de marketing digital ou até mesmo, coaching artístico. Ferramenta só funciona se usada da forma correta.

A maioria de nós está no meio do oceano em um barco com remos apenas e, não num transatlântico, como 0.25% da população mundial.

Diminua. Reflita. Por sua saúde física e mental.
Essa reportagem está em inglês, mas vale ler, coloca no tradutor.

Bauce kabira,
Hanna Aisha

segunda-feira, 12 de abril de 2021

Um ano depois: A dança e a pandemia

Dia 18 de março de 2020, eu iniciei o isolamento social porque meu trabalho mandou fazer home office. A pandemia tinha acabado de ser declarada pela OMS.

Dia 8 de abril de 2021 tomei minha segunda dose de vacina contra SARS-COV 2 da Pfizer.

Como todo mundo, achei que o pesadelo duraria pouquíssimos meses. E confesso que gostei de ter ficado em casa por dois meses, pois coloquei em dia diversos compromissos pessoais. Um deles era a dança.

Criei uma rotina incrível de exercícios físicos e aulas de dança. Enquanto algumas pessoas engordavam, eu estava emagrecendo. Mas, junho chegou e voltei a trabalhar presencialmente e minha cabeça parou de seguir uma ordem coerente, lógica. Ficou tudo bagunçado porque o combo ""pressão para recuperar o "tempo perdido" em casa + preocupação com a família e amigos no Brasil + falta de perspectiva disso acabar"" veio com tudo. Foram muitos meses para retomar as rédeas, mas acho que consegui produzir coisas, mesmo que atrapalhada:

- No Instagram, fiz uma live com aula para iniciantes e iniciei um projeto de lives mensais com convidados, em maio de 2020 (e que segue, vamos ver até quando).

- Dancei em algumas haflas e festivais online. Nesse meu primeiro vídeo produzido para ser passado online durante um evento, eu resolvi fazer algo diferente e dancei uma música pop libanesa:

Continuei dando aulas online.

- Fiz aulas online.

- Assisti diversas lives e fui convidadas de algumas.

- Li 2 livros sobre dança.

- Criei um serviço de orientação em dança.

- Até consegui vender dois figurinos através do Facebook!

Eu não sei o que você fez. Mas, queria te dizer que, caso você não tenha feito metade do que fiz, está tudo bem. Acho esse papo de coach de "no pain no gain" muito tóxico e humilhante. Especialmente, se você é uma chefe de família e com dependentes e encontra na dança uma maneira de estar sozinha, pensando em você.

A dança não deveria ser vista como um peso, nem pelas profissionais. Ela existe para nos fazer bem, como qualquer atividade extra ou mesmo como profissão. Se passamos a estar infelizes com ela, está na hora de dar um tempo dela ou, até, abandona-la. A pergunta que te faço é como você a enxerga na sua vida, qual o papel que ela tem. Uma vez isso esclarecido, você se cobrará menos (ou mais) e passará a ter uma relação mais saudável com ela.

Nessa confusão, eu não só deixei de emagrecer, como engordei muito mesmo, nunca estive tão acima do peso na minha vida. Perdi minha rotina de exercícios e dança e, ainda estou tentando reorganizar minha rotina. Me via no espelho e me odiava. Mesmo. Me achava feia, desinteressante e achei que minha carreira na dança não só tinha acabado porque engordei mas, também porque diminuí bastante a produção de conteúdos de dança, seja no YouTube, no Instagram, na FanPage, aqui no blog.

Decidi me perdoar porque os tempos são extraordinários (apesar desse ranço ainda existir em mim). Entendi que não posso manter a lógica e a coerência de produção se a lógica e a coerência do consumo estão alterados. Que diferença vai fazer se você postava todo dia nas redes sociais e passou a postar uma vez por semana? Para quem você faz isso? Para quem você trabalha?

Essas respostas são individuais porque as realidades são individuais. Logo, não se sinta mal se você não está fazendo o que os outros estão. E se você acha que deveria fazer o que estão fazendo, tudo bem também. Nos dois casos, só gostaria que você se preservasse porque a dança não vai desaparecer de você. Ela estará lá, linda e complexa, esperando por todas nós.

Respeitem o isolamento social, usem máscara apropriadamente, se vacinem quando puderem e não façam tratamento precoce (porque não existe, até então).

Bauce kabira,

Hanna Aisha

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Livros sobre dança - parte 8

O livro da Heather Ward (2015) deveria ser leitura obrigatória para toda profissional de danças árabes; ela foca a pesquisa dela nos acontecimentos que influenciaram toda a transição das danças ghawazee até a dança do ventre que estava surgindo nos cabarés do Cairo. Ela desenvolve bastante os temas como figurinos, cabarés e entretenimento egípcio em geral. Até poucos anos atrás, eu acreditava no mito de que a DV egípcia da Era de Ouro foi uma adaptação, basicamente passiva, feita pelos egípcios para agradar os europeus que frequentavam os cabarés no Cairo. Uma coisa que me marcou bastante foi ter lido que as mudanças que ocorreram desde o final do século 19 até o início da Era de Ouro foram feitas a partir de influências externas, mas muitas mudanças internas, mobilizadas, inclusive, por motivações políticas. E o que dá legitimidade ao seu livro é que essa pesquisa foi baseada em documentos e não em mitos ou achismos. Ela é antropóloga, o que justifica parte da qualidade do trabalho dela. A pesquisa é bem referenciada e aberta a possibilidades de novas interpretações, baseadas em novos dados, que possam vir a surgir. Infelizmente, só existe a versão em inglês.

A segunda indicação não é um livro, mas a tese de doutorado da Roberta Salgueiro (2012), outra referência que deveria ser leitura obrigatória. Foi a primeira tese de doutorado sobre DV no Brasil e muito do que a Roberta discute, cruza com muitos assuntos abordados pela Heather, como orientalismo e origem da DV no Egito. Mas a novidade é a proposta de entender a DV como transnacionalizada, passando, brevemente, pela história da DV no Brasil e sobre o conceito de feminino.

Boa leitura!
Bauce kabira,
Hanna Aisha

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

"Seu Método" - onde ciência e arte se encontram

"As ciências fornecem uma compreensão de uma experiência universal, as artes são uma compreensão universal de uma experiência pessoal... elas são uma parte de nós e uma manifestação da mesma coisa ... as artes e as ciências são avatares da criatividade humana" - Mae Jemison 

Ciência e arte são frequentemente vistas como disciplinas com pouco em comum. Porém, muitas pessoas, se dedicaram tanto à arte quanto à ciência. De Leonardo da Vinci no século 16 a Susan Aldworth no século 21, usaram a ciência como inspiração para seus produtos artísticos. Temos matemática na música, química na pintura, física na fotografia, biologia na dança.

Então, o que é ser cientista? O que é ser artista? Arte e ciência estão intimamente relacionadas. A partir da observação da natureza, seja externa ou interna, elas procuram demonstrá-la através de diversos processos ou técnicas, com tentativa e erro, a busca por algo novo e inovador, para, no fim, receber o reconhecimento por alguma descoberta.


Através do "Seu Método", eu posso te orientar nesse caminho onde ciência e arte se encontram. Sou uma cientista ativa (possuo Licenciatura em Biologia, com Mestrado e Doutorado em Bioquímica pela UFRJ) e estou no mundo acadêmico desde 1997. Anos estes, entremeados com Danças Orientais Árabes, quando iniciei meus estudos em 2000. Baseado no método científico e na experiência com Danças Orientais Árabes, eu guiarei seu aprimoramento ou algum aspecto dos seus estudos.

Você aprenderá a elaborar perguntas, identificar padrões e fontes de confiança, enfrentar dúvidas, encarar críticas, valorizar seu trabalho e, mais importante: ganhar autonomia.


Caso você tenha interesse, escreva para hannaaisha00@gmail.com para receber mais detalhes sobre este serviço!

Bauce kabira,
Hanna Aisha